- Peter Moon
- 03/05/2023
- 11:53

AMÉRICA DO Sul TEM NOVA ESPÉCIE DE LOBO-MARINHO
Pensava-se existir apenas duas espécies de lobos-marinhos na América do Sul. Estudo de brasileiro propõe agora uma nova espécie, o lobo-marinho-do-Peru
Lobos-marinhos ou leões-marinhos, eu não sabia, são todos do mesmo. Quer dizer, a genômica provou que os leões-marinhos e os lobos-marinhos fazem parte da mesma família. Não se dividem em subfamílias distintas, como se achava desde o século 18. Esta foi a primeira coisa que aprendi ao entrevistar o biólogo evolucionista gaúcho Fernando Lopes, atualmente no Museu Finlandês de História Natural, em Helsinque.
Fernando fez sua formação estudando os mamíferos marinhos na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Ele acaba de publicar na revista Science Advances um importante artigo, onde, ao lado de colegas brasileiros e estrangeiros, propõe uma nova espécie de lobos-marinhos para a América do Sul.

APENAS DUAS ESPÉCIES??
Tradicionalmente, os estudiosos dos mamíferos marinhos acreditavam que todas as populações do lobo-marinho-sul-americano eram compostas pela mesma espécie, cientificamente conhecida como Arctocephalus australis. Esta, por sua vez, era dividida em duas subespécies.
Uma delas é a do lobo-marinho-sul-americano propriamente dito, que ocorre do sul do Brasil até o centro sul do Chile. A outra subespécie é a do lobo-marinho-do-Peru. Como o próprio nome diz, eles vivem isolados na costa peruana.
Até hoje, a subespécie do lobo-marinho-do-Peru era conhecido como uma irmã do lobo-marinho-das-Galápagos, encontrado somente nas ilhas homônimas, a 1.000 km do litoral do Equador.
Só que não é mais assim. Segundo Fernando, o lobo-marinho-do-Peru conquistou o direito de ser considerado uma espécie à parte.

EVIDÊNCIA GENÔMICA
O trabalho de doutorado de Fernando, defendido em 2019, foi uma grande revisão das relações entre as espécies de lobos-marinhos e leões-marinhos, publicada em Systematic Biology. O artigo agora publicado na Science Advances é um complemento daquele primeiro trabalho, com uma resolução mais clara da complexa evolução destes mamíferos
Este trabalho mais recente usou como base o genoma nuclear completo dos lobos-marinhos do Peru, da América do Sul, de Galápagos e da Nova Zelândia, além de representações reduzidas dos genomas nucleares e mitogenomas (genomas mitocondriais) de 69 indivíduos coletados através da América do Sul e Oceania.
Após rodar uma série enorme de análises filogenéticas que produziam resultados conflitantes, Fernando Lopes resolveu investigar se tais conflitos poderiam ser resultado de hibridizações. Foi quando apareceu a solução.
O lobo-marinho-do-Peru não é uma subespécie de Arctocephalus australis.
Segundo Fernando, “nossas análises genômicas sugerem que o lobo-marinho peruano pode ter se originado de forma relativamente repentina, há cerca de 430 mil anos, como uma espécie híbrida geneticamente distinta do lobo-marinho-das-Galápagos com o lobo-marinho-Sul-americano”, explica Fernando.


PRÓXIMOS PASSOS
Indo um pouco além, ao combinar as análises genômicas do lobo-marinho-sul-americano, do lobo-marinho-das-Galápagos e do lobo-marinho-da-Nova-Zelândia (Arctocephalus forsteri), os pesquisadores descobriram duas coisas. Primeira: o ancestral comum das espécies das Galápagos, do Peru e da América do Sul viveu há cerca de 640 mil anos. Segundo: mais ou menos pela mesma época, esta população ancestral experimentou uma troca genômica com indivíduos da espécie neozelandesa.
“A ideia agora é investigar de forma ainda mais detalhada a origem e o processo evolutivo dos lobos-marinhos-do-Peru”, revela Fernando. “Vamos investigar qual é o papel desempenhado pelas mudanças climáticas para o futuro destes animais. É um tema para os próximos anos de pesquisa”.

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