- Peter Moon
- 03/05/2023
- 05:13

BRASILEIROS DESCOBREM SISTEMA DE ANÉIS EM QUAOAR
Em fevereiro, astrônomos brasileiros já haviam anunciado a descoberta de um primeiro anel ao redor de Quaoar. Agora, anunciaram a existência de um segundo anel, mais próximo daquele planeta-anão
Quaoar (pronuncia-se Cueiór) é um objeto astronômico do sistema solar cuja órbita se localiza depois da órbita de Plutão. Em fevereiro, astrônomos brasileiros já haviam anunciado a existência de um primeiro anel ao redor de Quaoar. Agora, detectaram a presença de um segundo anel! Em janeiro, a astronomia brasileira jé havia encontrado um anel ao redor de Chariclo. Os astrônomos brasileiros estão com a bola toda!
O SEGUNDO ANEL DE QUAOAR
Trabalho de brasileiros acaba de detectar um segundo anel em órbita de Quaoar. O artigo científico que descreve a pesquisa foi publicado na revista Astronomy & Astrophysics. O primeiro autor é Chrystian Luciano Pereira, do Observatório Nacional.
A descoberta do segundo anel ocorre apenas dois meses após o primeiro anel de Quaoar ter sido revelado pela mesma equipe (leia abaixo). O segundo anel de Quaoar é mais interno ao divulgado no início do ano. Ambas as descobertas foram feitas com o uso da técnica de ocultações estelares, quando um objeto do Sistema Solar passa em frente a uma estrela e bloqueia a sua luz por alguns instantes.
De acordo com os pesquisadores, diferentemente dos anéis observados em Chariclo, Haumea e nos quatro planetas gigantes, os anéis de Quaoar se encontram em uma região inesperada, muito além do limite de Roche. Para Quaoar, esse limite é estimado em 1.780 km de distância de seu centro (leia mais sobre o limite de Roche abaixo).

COMO OS ANÉIS DE QUAOAR FORAM DETECTADOS
O astrônomo brasileiro Bruno Morgado, do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liderou uma equipe internacional que usou dados captados por dezenas de observatórios astronômicos e por astrônomos amadores para demonstrar a existência de um sistema de anéis em torno de Quaoar. Participaram cientistas do Observatório de Paris, do Instituto de Astrofísica de Andalucia, da NASA e da Agência Espacial Europeia (ESA), que empregou o telescópio espacial Cheops para estudar Quaoar. Pela importância do trabalho, o artigo foi em fevereiro na prestigiosa revista britânica Nature.
Quaoar é um objeto astronômico do sistema solar cuja órbita se localiza depois da órbita de Plutão. Fica a 6,5 bilhões de quilômetros da Terra, ou 43 vezes a distância da Terra ao Sol. Quaoar foi descoberto em 2002. Ele tem 1.070 km de diâmetro, ou seja, mais da metade do diâmetro de Plutão. Seu nome é uma homenagem a Kwawar, o deus criador na mitologia do povo indígena Tongva, da Califórnia.
Quaoar é um dos maiores objetos conhecidos do Cinturão de Kuiper, que se estende para além da órbita de Netuno — por isso seus objetos são chamados transneutunianos. O Cinturão de Kuiper é constituído por milhares de objetos, entre asteroides, cometas e poeira, material este remanescente da criação do sistema solar, há 4,5 bilhões de anos.
Quaoar é um dos seis maiores objetos do Cinturão de Kuiper. Os outros grandes são Plutão (descoberto em 1930), Caronte (1978), Sedna e Haumea (ambos detectados em 2003), Eris e Makemake (em 2005), Varda (2006) e, finalmente, Gonggong (2007). Entre eles, já se conhecia o sistema de anéis de Haumea. Agora é a vez de Quaoar.

NÃO ESTÁ ONDE DEVERIA…
Os anéis de Quaoar não foram registrados em imagens. Sua detecção foi feita graças a uma técnica chamada de ocultação estelar. Primeiramente os astrônomos aguardaram pela passagem de uma estrela distante por trás de Quaoar. Neste momento, a luz da estrela projetou a sombra de Quaoar sobre a Terra. Esta sombra foi detectada, analisada, e a partir de sua análise inferiu-se indiretamente a existência do anel.
“O anel é muito irregular. Em algumas regiões ele é mais espesso, enquanto em outros lugares é bem fininho,” explica Morgado. “Mas o aspecto mais interessante dele é que não está onde deveria estar”. Ou melhor, o anel de Quaoar se encontra fora do limite de Roche. Trata-se de um limite teórico formulado em 1848 pelo astrônomo francês de mesmo nome, e empregado pela astronomia desde então.
Em astronomia, o limite de Roche é a distância mínima que um objeto (no caso, um satélite natural), pode estar em órbita de um objeto maior (Quaoar) mantendo a sua integridade. A princípio, qualquer objeto localizado numa distância inferior ao limite de Roche deveria se desintegrar sob o efeito da atração gravitacional de Quaoar. Por outro lado, além do limite de Roche as partículas do anel começariam a se agrupar e formar um satélite, fazendo com que o anel deixasse de existir.
Os anéis estão localizados a 4.100 km de distância de Quaoar, ou seja, uma distância equivalente a 7,4 vezes o raio de Quaoar. “O sistema de anéis está bem fora do limite de Roche. O que indica que esse limite nem sempre determina onde o material do anel pode sobreviver. O anel de Quaoar é o primeiro exemplo de um anel denso que se conhece a não obedecer ao limite de Roche”, afirma Morgado. Esta foi a principal descoberta da pesquisa responsável por alçar o artigo científico às páginas da Nature.

ANÉIS DE CHARICLO
Em 25 de janeiro, foi anunciado no site da Nasa que o poderoso telescópio espacial Telescópio Espacial James Webb conseguiu, pela primeira vez, registrar em imagens os anéis de Chariclo. Trata-se de um dos pequenos corpos do sistema solar que orbitam entre os planetas gigantes. No caso específico de Chariclo, sua órbita se situa entre Saturno e Urano. Na mitologia grega, a ninfa Cáriclo era a esposa de Chiron e filha de Apolo.
Os anéis de Chariclo foram descobertos em 2013, em artigo publicada igualmente na revista Nature. A pesquisa foi liderada pelo astrônomo brasileiro Felipe Braga-Ribas, com a colaboração de Bruno Morgado e da mesma equipe internacional que agora detectou os anéis de Quaoar. Braga-Ribas é professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná — em Curitiba (UTFPR).
“O James Webb registrou uma ocultação estelar dos anéis de Chariclo. O novo telescópio espacial está conseguindo feitos incríveis, como a gente esperava!”, diz Braga-Ribas, que liderou a pesquisa que descobriu a existência de Chariclo, em 2013.
“Estamos fazendo observações de Chariclo desde a descoberta dos anéis em 2013. Sempre que está para ocorrer uma ocultação estelar, nosso grupo faz campanhas internacionais visando atrair o interesse dos observatórios, assim como de astrônomos amadores, a observar o fenômeno e nos enviar os dados”.

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